A técnica e a prática da psicanálise

A técnica e a prática da psicanálise clínica

Técnica e prática da psicanálise

A técnica e a prática da psicanálise clínica são o conjunto de procedimentos e abordagens utilizados pelos psicanalistas para ajudar os pacientes a explorarem suas vidas mentais inconscientes, compreenderem as fontes de seus conflitos internos e superarem seus problemas emocionais. Essa técnica é baseada na teoria psicanalítica, desenvolvida por Sigmund Freud no final do século XIX e início do século XX.

Aqui estão alguns aspectos fundamentais da técnica e da prática da psicanálise clínica:

  • A importância da livre associação: Na psicanálise clínica, o paciente é encorajado a falar livremente sobre seus pensamentos e sentimentos, sem censura ou julgamento. Esse processo é conhecido como livre associação e tem como objetivo permitir que o paciente explore seus processos mentais inconscientes e traga à tona materiais reprimidos que possam estar afetando sua vida diária.
  • A relação transferencial: A relação entre o paciente e o psicanalista é fundamental na psicanálise clínica. Ao longo do processo terapêutico, o paciente pode projetar sentimentos e desejos em relação ao analista que refletem sua dinâmica pessoal interrompida. Essa transferência pode ser tanto positiva quanto negativa, mas é uma parte essencial do trabalho psicanalítico, pois permite que o paciente explore questões emocionais importantes.
  • A interpretação dos sonhos: Os sonhos são considerados uma porta de entrada importante para a vida mental inconsciente do paciente. Na psicanálise clínica, o psicanalista utiliza a interpretação dos sonhos para ajudar o paciente a compreender seus pensamentos e desejos inconscientes, bem como as fontes de suas emoções e comportamentos.
  • A importância da relação entre o analista e o paciente: A relação entre o paciente e o psicanalista é vista como uma parte fundamental do processo terapêutico. O sucesso da terapia depende em grande parte da abordagem empática, respeitosa e não julgadora do analista em relação ao paciente.
  • A duração e frequência das sessões: Na psicanálise clínica, as sessões geralmente duram 50 minutos e ocorrem uma vez por semana. A duração e frequência das sessões são importantes porque permitem que o paciente mergulhe em sua vida mental inconsciente e desenvolva um relacionamento profundo com seu psicanalista.

Um exemplo de como esses princípios podem ser aplicados na prática é o seguinte: suponha que um paciente esteja enfrentando problemas no trabalho e relatou sentir-se ansioso e frustrado por não conseguir se expressar adequadamente com seus colegas de trabalho. O psicanalista pode então incentivar o paciente a explorar livremente as associações que surgem quando ele pensa em situações específicas que o deixaram ansioso no trabalho. Ao fazer isso, o paciente pode começar a entender melhor os pensamentos e emoções subjacentes que estão contribuindo para sua ansiedade, e o psicanalista pode ajudá-lo a interpretar esses materiais para encontrar caminhos possíveis para a superação dos impasses interpessoais.

Em resumo, a técnica e a prática da psicanálise clínica envolvem a utilização de uma série de procedimentos e abordagens que visam ajudar os pacientes a explorar seus processos mentais inconscientes, compreender as fontes de seus conflitos internos e superar seus problemas emocionais. A relação entre o paciente e o psicanalista é vista como fundamental nesse processo, bem como a prática da livre associação, a interpretação dos sonhos e a reflexão sobre transferências no tratamento. A seguir será detalhado os procedimentos da técnica e prática da psicanálise.

Primeiro Procedimento: Confrontação 

Devemos tornar evidente o fenômeno “Confrontação”. Fazer com que o paciente sinta estar “evitando” determinados assuntos. Fundamentalmente, estes assuntos evitados são as resistências inibidoras de expansões psicomaturacionais às quais devemos identificar no âmago de nossos pacientes, trabalhando isoladamente uma a uma. 

Vale destacar que estas resistências encontram-se próximas às pausas durante a exposição livre de assuntos por parte do paciente. O psicanalista deve estar atento e anotar, em ordem sequencial, os grandes temas, anteriores e posteriores à pausa e também o ponto exato do tema em que antecede uma inspiração profunda. 

Tanto a pausa quanto a inspiração ou ainda uma movimentação (troca de posição no divã) e também o engolir desarmônico da saliva, mesmo uma “tossidinha” ou um fungar, uma movimentação dos pés, estalar de dedos, um contrair forte das pálpebras seguida de inspiração profunda, um enrijecimento de um grupo muscular ou vários. Todas essas manifestações exteriorizadas evidenciam a necessidade de um aprofundamento do ponto em questão. Por isso a necessidade de anotação dos pontos, principalmente, que antecedem tais manifestações. 

Devemos anotar em sequência os grandes temas que antecedem a raciocínios interrompidos por manifestações em movimentos do paciente no divã, sejam parciais ou globais. Ainda, de inspirações, tosses e tudo quanto o psicanalista suponha serem estratégias de fuga ao tema, mesmo que inconscientes para o paciente, abordando, isoladamente, a qualquer tempo, uma a uma. O paciente saberá antes de nós, pela confrontação, os assuntos a serem evitados, resistências, as quais, no segundo procedimento, haveremos de evidenciar. A confrontação é a exposição pelo psicanalista ao paciente, dos temas que antecederam as fugas, confrontando-o com seus medos interiores. 

Exemplos de aplicação

Siga os seguintes exemplos de aplicação:

  1. Utilize a técnica da livre associação: A livre associação é uma técnica muito importante na psicanálise clínica. Ela permite que o paciente fale livremente sobre seus pensamentos e sentimentos, sem censura ou julgamento. Um exemplo de como essa técnica pode ser aplicada é o seguinte: uma paciente relatou sentir-se ansiosa durante as reuniões de trabalho. O terapeuta então pediu para ela falar livremente sobre suas experiências de trabalho, permitindo que ela explorasse os aspectos que a deixavam ansiosa.
  2. Explore a transferência: A transferência é a projeção de sentimentos e desejos do paciente em relação ao terapeuta. Ela é um aspecto fundamental do trabalho psicanalítico. Por exemplo, uma paciente pode projetar em seu terapeuta um sentimento de raiva que ela tem em relação a uma figura paterna ausente. O terapeuta pode então ajudá-la a explorar esses sentimentos, ajudando-a a compreender melhor suas relações emocionais passadas e presentes.
  3. Utilize a interpretação dos sonhos: Os sonhos são considerados uma porta de entrada importante para a vida mental inconsciente do paciente. Na psicanálise clínica, o terapeuta utiliza a interpretação dos sonhos para ajudar o paciente a compreender seus pensamentos e desejos inconscientes, bem como as fontes de suas emoções e comportamentos. Por exemplo, uma paciente pode sonhar repetidamente com um ex-parceiro. O terapeuta pode então ajudá-la a explorar o simbolismo do sonho e possivelmente descobrir emoções reprimidas em relação ao ex-parceiro.
  4. Desenvolva uma relação de confiança: A relação entre o paciente e o terapeuta é vista como fundamental na psicanálise clínica. É importante que o terapeuta desenvolva uma relação respeitosa, empática e não julgadora com o paciente. Por exemplo, um terapeuta pode ajudar um paciente a superar traumas emocionais por meio de uma relação de confiança e segurança, permitindo que o paciente se sinta à vontade para explorar assuntos delicados.
  5. Seja consistente e paciente: A psicanálise clínica é um processo longo e complexo. É importante que o terapeuta seja consistente nas sessões e paciente com os progressos do paciente. Um exemplo de como essa abordagem pode ser aplicada é o seguinte: um paciente pode levar anos para elaborar e trabalhar questões profundas de sua personalidade. Nesses casos, o terapeuta deve reconhecer a importância do trabalho contínuo e paciente do paciente, sem pressioná-lo ou tentar acelerar seu ritmo.

Segundo Procedimento: Esclarecimento 

Tudo que tenha influenciado positiva ou negativamente um ser, na infância, irá manifestar-se na vida adulta. 

Os sentimentos e conceitos da infância poderão tornar-se resistências quando adultos. Um pai de cabelos grisalhos que pisa sobre os pobres e bajula os ricos poderá criar resistência na vida adulta do filho, contra todos os homens com cabelos grisalhos. 

Cada resistência deverá ser isolada e confrontada. Devemos levar o paciente a uma condição de consciência externa de suas inibições. Oferecer-lhe a consciência daquilo que até então se encontrava inconsciente, ainda que constitutiva de sua mais íntima realidade. 

O psicanalista deve colocar o paciente totalmente à vontade para tratar dos assuntos que evidenciou evitar. Sobretudo, o psicanalista deve ter plena consciência que todo ser, mesmo em silêncio, está a pensar, respeitando assim as elaborações silenciosas do paciente. Devemos anotar os temas e pontos que julgamos desencadear elaborações silenciosas, buscando esclarecer, reforçar e evidenciar tais elaborações. 

As elaborações mentais em silêncio no divã, tem um ponto desencadeador, e este ponto encontra-se no último elo de assunto abordado pelo paciente antes do silêncio. Devemos anotar sempre, confrontar e esclarecer, sendo que este esclarecimento pode ocorrer em momento e sessões posteriores que tiveram suas manifestações anotadas pelo psicanalista. 

Terceiro Procedimento: Interpretação 

É este procedimento que distingue a Psicanálise de todas as outras psicoterapias. Ralph Greenson vê a interpretação em Psicanálise como o instrumento decisivo e fundamental. Vamos além do que é observado instantaneamente e conferimos um sentido e causalidade a um fenômeno psicológico 

Esclarecimentos e interpretações interagem reciprocamente. Interpretações retornam-nos a esclarecimentos que nos desafiam em suas interpretações que nos levam a novos esclarecimentos. Os instrumentos de interpretação do psicanalista, além de sua profunda formação, sustentada em fundamentos, observações e pesquisas do Dr. Sigmund Freud encontram-se em seu retorno superconsciente, inconsciente, todavia consequente de consecução ativa reativa.  

Utiliza-se, ainda, da empatia natural existente entre o psicanalista e o paciente, consciente das resistências sempre presentes durante a Psicanálise. Sucessivamente, interpretações e esclarecimentos ocorrem durante a Psicanálise, competindo ao analista lançar mão de toda a sua bagagem formativa e de pesquisas para, cientificamente, fundamentar e esclarecer os fenômenos elaborados inconscientemente pelos pacientes. O retorno ao paciente é de vital importância.

Quarto Procedimento: Elaboração 

A elaboração (…) possibilita que uma compreensão interna (insight) provoque uma mudança (…), ocorre depois de uma compreensão interna. 

 A elaboração, segundo Ralph Greenson, é o fenômeno que mais tempo ocupa na terapia psicanalítica. Ocorrendo, quase em sua totalidade, fora da sessão, utilizando-se dos elementos desencadeados pelo procedimento anterior de interpretação. 

 Dificilmente a compreensão interna provoca mudanças rápidas de comportamento. Se ocorrer, provavelmente não se sustenta como comportamento padrão linear à normalidade. Ocorrem desvios instáveis em busca da estabilidade média reativa.. 

O paciente poderá ser arrastado por níveis outros de estímulos, advindos dos meios externos. Meios estes, novos, por sua súbita mudança, podendo, pela falta de respostas compatíveis, sustentáveis e equilibradoras serem devolvidos aos meios e padrões anteriores, mais leves, havendo estes sido “teoricamente” e por “elaboração” interna, já ultrapassados. Necessitam, contudo, do elemento “reforço” à sustentabilidade e harmonia “equicopartícipe” interacional. 

 A frequência média entre o comportamento de paciente e os naturais, agora novos meios de suas participações, com constância de mensagens, de forma equilibrada, produtiva, harmônica e sincrônica; alegre e feliz; descontraída e evolutivamente atraente, evidenciam-nos a correta orientação, e nossa bem sucedida utilização dos quatro procedimentos básicos, elementares e facilitadores da Psicanálise. 

 Reforçamos, contudo, que um único procedimento dos quatro supracitados, o primeiro, “confrontação” pode gerar, em uma primeira sessão, elementos para muitas sessões, dependendo, sobretudo, do poder de observação do psicanalista, anotando os temas e pontos em que o paciente evidencia resistências. Logo, um a um serão “esclarecidos”, “interpretados” e “elaborados” isolada e separadamente. 

 Durante os procedimentos, novos, sucessivos e intermináveis temas de resistência hão de surgir, levando a novas observações, anotações, confrontações, esclarecimentos, interpretações e reforços. 

 A sincera e honesta intervenção psicanalítica, imbuída dos sublimes ideais em “medicar psicanaliticamente” o paciente, norteará o curso da Psicanálise. 

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