
O que Freud diria sobre as redes sociais?
As redes sociais são um fenômeno recente que tem impactado a forma como as pessoas se comunicam, se relacionam e se expressam. Mas o que Freud, o pai da psicanálise, diria sobre elas?
Uma das obras de Freud que pode nos ajudar a entender as redes sociais é “Psicologia das massas e análise do eu”, publicada em 1921. Nela, Freud analisa a formação e o funcionamento das massas, ou seja, dos grupos de pessoas que se unem por um sentimento comum, uma identificação ou uma ideologia. Freud afirma que nas massas há uma regressão psíquica, uma perda da individualidade e da racionalidade, e uma submissão ao líder, que representa o ideal do eu dos membros da massa. O líder é aquele que possui as qualidades que os membros da massa admiram e desejam, e que lhes oferece um sentimento de pertencimento e de proteção. Nas massas, há também uma tendência à uniformidade, à imitação e à intolerância com os diferentes ou os opositores.
As redes sociais podem ser vistas como espaços virtuais onde se formam diversas massas, com diferentes interesses, valores e opiniões. As pessoas buscam nas redes sociais uma forma de se conectar com outras que compartilham de suas visões de mundo, de seus gostos e de suas preferências. As redes sociais também oferecem uma forma de se expor ao olhar dos outros, de buscar reconhecimento, admiração e validação. Nesse sentido, as redes sociais podem ser entendidas como um campo narcísico, onde o eu se projeta e se espelha nos outros.
O narcisismo
O narcisismo é outro conceito psicanalítico que pode nos ajudar a compreender as redes sociais. Freud define o narcisismo como o investimento libidinal no próprio eu, ou seja, o amor por si mesmo. Ele distingue dois tipos de narcisismo: o narcisismo primário, que é inato e necessário para a sobrevivência do indivíduo, e o narcisismo secundário, que é adquirido e resulta da retirada da libido dos objetos externos para o eu. O narcisismo secundário pode ser saudável ou patológico, dependendo do grau e da qualidade do investimento no eu.
Nas redes sociais, podemos observar manifestações de ambos os tipos de narcisismo. O narcisismo primário se expressa na busca por satisfação imediata dos desejos, na impulsividade, na falta de limites e na dificuldade de tolerar frustrações. O narcisismo secundário se expressa na idealização do eu, na exibição da imagem perfeita, na autoestima inflada e na necessidade constante de atenção e de aprovação. Nas redes sociais, também podemos observar fenômenos como a inveja, a rivalidade, a competição e a agressividade entre os usuários.
Reflexo da sociedade
Freud provavelmente diria que as redes sociais são um reflexo da sociedade atual, que é marcada pelo individualismo, pelo consumismo, pela superficialidade e pela falta de sentido. Ele também diria que as redes sociais são um sintoma da crise da autoridade paterna, que é a instância simbólica que regula a cultura e a civilização. Sem a referência paterna, os indivíduos ficam à mercê de seus impulsos primitivos e de seus ideais ilusórios.
Ele não era contra a tecnologia nem a modernidade e reconhecia os benefícios e os avanços que elas traziam para a humanidade. Mas também alertava para os perigos e os desafios que elas implicavam para a psique humana. Freud sabia que o progresso material não garantia o progresso moral nem o bem-estar psíquico e que o homem não era apenas um ser racional, mas também um ser emocional, afetivo e inconsciente.
Portanto, Freud não condenaria as redes sociais nem as proibiria. Ele apenas nos convidaria a refletir sobre elas, sobre nós mesmos e sobre nossas relações com os outros. Ele nos convidaria a questionar nossos motivos, nossos valores e nossos ideais. Ele nos convidaria a buscar um equilíbrio entre o eu, o outro e a realidade e a fazer uma análise do eu.
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