Introdução à supervisão na clínica psicanalítica
A prática da supervisão na clínica psicanalítica
A prática da supervisão é muito importante para a clínica psicanalítica. Trata-se de uma atividade que tem o objetivo de acolher um caso clínico que é relatado, sem a pretensão de solucioná-lo. É responsabilidade do supervisor criar um espaço de escuta e de acolhimento para auxiliar o seu supervisionando.
A supervisão é uma prática que apresenta variações significativas que podem ser observadas através dos casos analisados. O centro da supervisão está no supervisionando, e também na própria prática da psicanálise. Quando prevalece a função da formação, a ênfase está no supervisor.
O trabalho do supervisor se baseia na transferência e, nesse caso, o seu olhar deverá ser direcionado para o supervisionando. Nessa perspectiva, o supervisor deve prestar atenção ao identificar alguma questão mais específica do caso clínico, que possa ter relação com questões da análise pessoal do supervisionando.
A discussão em torno da prática da supervisão psicanalítica vai além do contexto que envolve a formação do analista. Uma vez que a supervisão capta os limites da clínica, trata-se de uma prática que se revela na sua dimensão ética e política.
A supervisão toca o ponto em que o não saber movimenta o desejo do saber, colocando em perspectiva a escuta analítica. A prática da supervisão não consiste em encontrar a verdade na resolução de um determinado caso, colocando o não saber em primeiro plano.
O supervisor é aquele que dirige a prática da supervisão, e não o supervisionando. A supervisão convoca o supervisor para a responsabilidade em face da construção de uma prática da teoria, com base no desejo do analista, que é quem deverá sustentar a ética da sua própria clínica.
Para o supervisionando, a supervisão é uma prática que o convoca a ter a capacidade de suportar aquilo que ele não sabe, e que o move na busca para entender o que determinado caso clínico provoca nele.
A dificuldade em lidar com determinado caso é o que faz com que o analista leve questionamentos para o supervisor. Este é quem deverá compartilhar as questões do analista, acessando suas falhas e dúvidas na elaboração dos atendimentos clínicos.
A supervisão não é uma prática sustentada no acúmulo de conhecimento, pelo contrário, ela versa sobre a apreensão da escuta de um caso para extrair a lógica que o estrutura. Nesse sentido, a supervisão psicanalítica não se apoia no que o supervisor ensina sobre o caso ou sobre conceitos teóricos referentes a ele, mas se sustenta no lugar de uma prática conduzida por uma transmissão ética que gira em torno de um saber que não é total. Trata-se de uma ética que aponta para um limite.
Qual é o papel do supervisor na clínica psicanalítica?
O supervisor é aquele que convoca o supervisionando a escrever uma história sobre o caso que ouviu e, é por meio dessa convocação do supervisor, que o não saber deste se faz presente. Esse posicionamento de não detentor de todo conhecimento reflete uma forma de recusa à mestria do supervisor, dando lugar à responsabilidade do supervisionando, que está implicado no caso em questão.
Freud já recomendava aos jovens analistas que cada caso fosse compreendido como se fosse o primeiro caso. Com isso, ele queria dizer que a análise não é sobre analisar o paciente por um saber prévio. Na escuta clínica é importante que haja sempre uma abertura para o não saber. Trata-se de uma interrogação que acompanha a escuta em movimento.
Essa é a via da formação e da transmissão da psicanálise. Freud ainda ressaltava que a psicanálise carrega consigo algo de inapreensível e inconsciente na marca que registra essa assimilação.
O desabrochar do conhecimento da psicanálise disseminado pelos mestres só ocorreu muito tempo depois da transmissão do saber. Por isso, Freud nos ensina que os mestres de sua época disseram mais do que, naquela época, eles próprios conseguiram dominar em termos teóricos e práticos. Então, é importante que o analista esteja aberto para a captação daquilo que é inapreensível, o lugar do não saber e do não dito, que é tão relevante para a psicanálise.
O legado de Freud consistiu em uma prática desenvolvida pela técnica da associação livre e pelo estudo do inconsciente. Trata-se de um conhecimento que não é total e limitado, não é absoluto, e jamais será uma verdade única.
A supervisão na clínica psicanalítica é uma prática atravessada pelo discurso do inconsciente. É uma prática inacabada, em renovação constante que, para ser transmitida com eficiência precisa funcionar como uma um processo de acolhimento à escuta clínica.
O atravessamento de determinado caso clínico pode gerar uma série de questionamentos no supervisionando, que precisam ser observadas do ponto de vista da separação entre a experiência que é vivida, e daquilo que se conta a partir dela.
O conteúdo relatado na supervisão não é apenas um compilar da história do caso que é transmitido ao analista, mas é um material em cima do qual o supervisor deverá realizar uma escuta acolhedora, recebendo aquilo que ouve sem uma avaliação pretensiosa.
Nesse sentido, a supervisão é uma prática que clama por uma ruptura do olhar narcisista do analista. A escuta do supervisor não é uma prática que consiste em um exercício de poder e de autoridade. A supervisão é um espaço que deve acolher o supervisionando no sentido de lhe permitir falar abertamente sobre determinado caso.
Ao supervisionando, é concedido um espaço dedicado para que ele fale sobre aquilo que lhe é mais estranho e, ao mesmo tempo, do que é íntimo na sua fala. Existe um ponto que rompe com toda a comunicação, com o lugar do que é falado.
O papel do supervisor não é o de resolver o caso que é trazido pelo supervisionando, mas sim acolher o que está sendo dito. Não é tarefa do supervisor a resolução do caso que lhe é contado, tampouco ele deverá presumir que seu saber se limita a um conhecimento apenas acadêmico.
Freud já afirmava que a formação do analista prescinde da universidade, uma vez que o estudo teórico da psicanálise, a análise em si e a supervisão são atividades que podem ser desenvolvidas em institutos que sejam cultivados por psicanalistas, não se trata de uma prática e método exclusivos do ambiente acadêmico.
Lacan foi um dos psicanalistas mais polêmicos e provocativos sobre o desenvolvimento da prática psicanalítica. Em suas críticas, Lacan incluiu novos elementos na formação do analista e também na prática da supervisão. Ele deslocou a supervisão do lugar puro da técnica, abrindo novos horizontes para pensar a ética que se encontra vigente na prática, a qual era fundada no desejo do analista e na sustentação do lugar do suposto saber na relação transferencial existente entre o supervisor e o supervisionando.
Portanto, a prática da supervisão não deve ser uma atividade hierarquizada, em que o supervisionando está em nível inferior ao supervisor, seguindo o modelo de soberano e de aluno. Ao contrário, a supervisão deve pressupor uma ruptura dessa hierarquia, a fim de que ela possa sustentar a angústia que o caso clínico pode provocar, suscitando maiores reflexões sobre o fazer psicanalítico propriamente dito.
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