O que é a contratransferência?
A contratransferência na clínica psicanalítica
A contratransferência é uma ferramenta importante para a clínica psicanalítica. Sua definição foi dada, inicialmente, nas obras de Sigmund Freud. Para compreender a contratransferência é necessário entender, primeiramente, o que é a transferência.
Ambos os conceitos estão interligados desde sua origem na teoria da psicanálise. Tanto a transferência quanto a contratransferência foram notadas a partir das dificuldades no tratamento clínico, por se revelarem por meio dos impasses da relação analítica e, consequentemente, como obstáculos para o processo analítico.
O conceito psicanalítico de transferência surgiu no tratamento das pacientes que sofriam de histeria e foi apresentado pela primeira vez por Freud na obra “Estudos sobre a histeria”. O termo transferência foi designado como uma das formas de resistência evidente nas pacientes que sofriam desse tipo de neurose.
A especificidade dessa resistência deve-se ao fato do paciente transferir para a figura do analista afetos inconscientes e vinculados às figuras de outras pessoas que foram importantes para o seu passado.
A transferência foi definida por Freud como um tipo de resistência que se manifestava como parte dos mecanismos de defesa relacionados aos sintomas do paciente. A noção de contratransferência não foi trabalhada com muita profundidade nos estudos de Freud.
Em linhas gerais, a contratransferência, em oposição à transferência, trata dos afetos que o analista projeta no analisando. Por meio da contratransferência, é possível ter melhor conhecimento sobre os fenômenos conscientes e inconscientes que permeiam a transferência, muitas vezes sem serem notados.
O inconsciente do analista tem uma função que se assemelha à de um órgão receptor, o qual delimita o seu papel na captação da fala inconsciente, ou seja, na escuta do paciente. Entretanto, essa comunicação pode não ser estabelecida naturalmente, de modo que o analista precisará ajustar a sua escuta à fala do paciente. A capacidade do analista para estar em sintonia com o paciente é o que possibilita que não existam interferências por parte das projeções do analista.
A contratransferência como obstáculo ao tratamento
A contratransferência pode ser um obstáculo para o tratamento do paciente, sendo que o seu manejo é essencial para uma boa condução da análise. O contexto analítico pode provocar certos tipos de transferências no analisando, de modo que o inconsciente do analista pode provocar reações, também inconscientes, no paciente.
É fundamental que o analista esteja em dia com a sua análise pessoal, sendo ele o próprio analisado. Desse modo, para analisar outras pessoas é necessário, primeiramente, que o analista tenha consciência dos próprios movimentos inconscientes e processos transferenciais, os quais podem influenciar o psiquismo do paciente.
A neutralidade por parte do analista garante uma defesa contra a carga emocional advinda da transferência, permitindo a liberdade de atenção na escuta. O analista deve utilizar seu inconsciente como instrumento de captação e, a partir dessa recepção, deve deixar os elementos inconscientes do paciente tomarem espaço dentro da sua própria psique.
Freud reforçou que é dever do analista controlar seus próprios sentimentos que podem se manifestar na contratransferência, mantendo uma postura de neutralidade a fim de evitar a projeção das peculiaridades e defeitos de sua própria personalidade.
O manejo da contratransferência tem importância crucial para a continuidade do tratamento do paciente. Para Freud, nenhum psicanalista poderá avançar além dos seus próprios complexos e resistências internas. Por essa razão, é fundamental que o analista invista em sua análise pessoal e na supervisão de casos clínicos.
A importância do manejo da contratransferência
O manejo dos próprios sentimentos inconscientes durante a análise não é algo simples para qualquer analista, justamente pelo fato de envolver questões pessoais que não se encontram devidamente elaboradas.
A perspectiva contemporânea da contratransferência aborda esse conflito como parte da análise. A definição da contratransferência está além da reação emocional do analista frente ao seu paciente.
Com isso, abre-se a possibilidade da contratransferência ser utilizada como instrumento analítico, na medida em que viabiliza a compreensão da relação transferencial e da psique do paciente. O conceito de contratransferência sofreu modificações ao longo da história da psicanálise, bem como o conceito de transferência, que se tornou central na teoria e na técnica psicanalítica.
No início da psicanálise, Freud abordou que a transferência é definida como um mecanismo de defesa, em razão dos sintomas e a favor da resistência, que causava interferências na relação analítica.
A compreensão da contratransferência surge, na psicanálise, da mesma forma, enquanto um mecanismo de resistência do analista em função das suas questões recalcadas e mal elaboradas, gerando interferência na escuta analítica e na sintonia entre o analista e o paciente.
A análise pessoal e a supervisão são fundamentais, pois evitam influências desnecessárias e prejudiciais para os processos do paciente, uma vez que o próprio analista pode deixar passar despercebidos aspectos da contratransferência.
A contratransferência pode ser compreendida além da resposta emocional do analista à transferência do paciente, pois leva em conta os sentimentos do próprio analista e de sua subjetividade dentro do contexto analítico. A subjetividade do analista revela-se como parte da transferência, que causa mudanças em como o paciente estabelece sua transferência, tornando-se ferramenta essencial para o método psicanalítico.
Os sentimentos da contratransferência do analista são uma forma de compreender os aspectos mais regredidos do paciente, os quais não são passíveis de serem expressos pela fala, mas apenas por meio da transferência.
Para que a reprodução dos traumas do paciente seja manifestada terapeuticamente, o analista precisa desenvolver a sua sensibilidade analítica a partir da contratransferência, identificando as projeções inconscientes do paciente.
A fim de que um bom trabalho de análise seja realizado, o psicanalista precisará suportar as projeções do inconsciente do analisando, utilizando-as na elaboração dos conteúdos inconscientes, o que ocorrerá por meio das interpretações e do manejo analítico.
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