o que é a transferência

O que é a transferência?

A definição da transferência na psicanálise

A definição de transferência na psicanálise passou por diversas reformulações desde a sua conceituação original designada por Freud. O conceito de transferência trata da projeção dos sentimentos realizada pelo analisando no decorrer da análise.

Esse conceito foi definido por Freud nas obras “A dinâmica da transferência” (1912), “Recordar, repetir e elaborar” (1914) e nas “Conferências introdutórias sobre a psicanálise” (1916-1917). A transferência é um fenômeno que ocorre no setting analítico. Nesse processo, os sentimentos sobre as figuras parentais são atualizadas na relação entre o paciente e o analista. Trata-se de uma parte muito importante da técnica psicanalítica.

Por meio da ferramenta transferencial, o analista consegue identificar os sentimentos relacionados aos imagos parentais. As nossas relações primordiais na vida são a relação materna e paterna, ou seja, com aqueles que foram responsáveis pela nossa criação.

A transferência é um tipo de deslocamento dos conteúdos do inconsciente para o pré-consciente. O processo transferencial transcorre como uma projeção atualizada que o analisando faz na figura do analista. Essa atualização de sentimentos é importante para que as dinâmicas repetitivas do paciente sejam identificadas e reelaboradas ao longo da análise.

Os sentimentos ligados ao passado do paciente e a projeção desses afetos na figura do analista são revividos e podem ser ressignificados em uma transferência que seja conduzida de forma saudável. Se a transferência ocorrer de forma saudável e produtiva, por meio da boa condução e do manejo do analista, então o analisando se verá capaz de seguir no seu processo de amadurecimento de forma autônoma e independente.

Contrariamente à transferência, existe a contratransferência. Nesse caso, é o analista quem tem os seus sentimentos projetados na figura do analisando. A contratransferência pode ser prejudicial para os processos do paciente, por essa razão, é fundamental que o analista esteja em dia com a sua análise pessoal.

A transferência positiva e negativa

No tratamento psicanalítico, existem diferentes tipos de transferência. Ela pode ser positiva ou negativa, o que dependerá da natureza dos sentimentos relacionados aos cuidadores do início da vida do paciente.

Além de ser positiva ou negativa, existem outros tipos de transferência e, apesar de ser uma ferramenta importante para a análise, é possível que ela também se torne um tipo de resistência por parte do analisando. Por isso, o manejo da transferência é fundamental, sendo que o analista deve dar a devida atenção e saber conduzi-la adequadamente.

A transferência positiva é aquela em que o paciente manifesta sentimentos amorosos na figura do analista. Ela é favorável ao processo analítico. Esta também é facilitadora para o processo analítico. Em contrapartida, a transferência negativa é aquela em que são projetados os sentimentos de raiva e os impulsos agressivos do paciente no analista.

Normalmente, os sentimentos de hostilidade do analisando estão encobertos por trás dos sentimentos afetuosos mais positivos. A presença dos sentimentos amorosos e dos sentimentos hostis apontam para a ambivalência dos sentimentos do analisando no vínculo afetivo com o analista.

A relação transferencial pode ser uma resistência ao longo da análise. O trabalho do analista será o de realizar uma boa condução deste dispositivo enfrentando as resistências que obstruem o avanço do processo.

Segundo Freud, a transferência deve ser observada cautelosamente. É necessário que o analista compreenda onde a transferência surge, quais resistências ela impõe ao trabalho da análise, e como as adversidades do movimento transferencial podem ser contornadas.

Em linhas gerais, Freud propõe que o analista não ceda às exigências transferenciais, mas tampouco as rejeite. O analista deverá sustentar a transferência por meio da interpretação, revelando ao paciente que a origem de seus sentimentos não está na situação atual ou relacionada diretamente com a pessoa do analista. Trata-se da repetição de sentimentos pertencentes ao passado do analisando, que se encontra em um movimento de regressão.

A importância desta ferramenta na clínica psicanalítica

Sem dúvida, a transferência é uma ferramenta muito importante para o processo analítico. Freud ressaltou os benefícios bem como as dificuldades que se interpõem por meio do próprio dispositivo. Além disso, Freud sempre esteve consciente das barreiras que são prejudiciais ao sucesso da análise, por isso, ele se prontificou a investigá-las.

Se a análise tiver uma transferência positiva, o paciente sente confiança no analista e no vínculo terapêutico. Para Freud, a transferência envolve um deslocamento da libido dos objetos originais do passado para a figura do analista, sendo uma operação inconsciente, que fica evidente pela repetição dos padrões de vida do paciente.

Desse modo, o paciente repete na transferência as situações reprimidas no passado como algo efetivamente pertencente ao presente. Essa atualização de sentimentos é importante para que novos comportamentos, sentimentos e pensamentos sejam elaborados.

A elaboração desse processo leva tempo e deve ser cuidadosamente trabalhada pelo analista. Tanto a transferência positiva quanto a transferência negativa surtem impactos decorrentes das experiências de vida do paciente com as figuras primordiais do seu passado.

O psicanalista precisa ter consciência e saber identificar essa projeção de sentimentos, bem como a de perceber quando o dispositivo se transforma em um obstáculo para o andamento da análise.

A análise só vai começar, de fato, quando iniciar o processo transferencial. Ele é crucial e necessário para o sucesso do tratamento. Um fator indispensável é que o analista esteja em análise pessoal, pois isso vai assegurar que seus conteúdos afetivos não se misturem e interfiram negativamente nos processos do analisando.

Contrariamente à transferência, existe a contratransferência. Esta última refere-se aos afetos que o analista projeta no analisando. Além da análise pessoal do analista, a supervisão também é parte essencial para o manejo tanto da transferência quanto da contratransferência.

Na supervisão, o analista terá espaço para aprender a lidar com os casos clínicos mais difíceis. A supervisão é parte essencial do tripé psicanalítico e, portanto, do trabalho do psicanalista.

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